Filhos e Companhia

O presente, um pedacinho do passado, os sonhos e desejos do futuro de uma família em crescimento...

11/16/2007

Uma formiga...

Ou deverei dizer uma completa idiota...Não sei como me senti na 6ª feira, quando revi uma pessoa que já não via há uns meses.

Quando a vi pela última vez no final de Agosto, ela estava grávida de 6/7 meses da sua menina. Perguntei-lhe se já tinha nome, disse-me com orgulho que seria Lara. Disse-lhe que gostava do nome, feminino, amoroso...Disse-me que o nascimento estava previsto para o início de Outubro, eu comentei que ainda haveria de nascer no dia do Henrique.

No final de Setembro, deixou de sentir a sua bebé, foi ao Hospital por precaução, pois acreditava que estaria tudo bem...No CTG confirmaram que já não existiam movimentos cardíacos...

Deu à luz no dia seguinte a sua filha sem vida...

Desde Agosto que não a encontrava e soube do triste desfecho por terceiros, não tinha proximidade suficiente para a contactar, na realidade acho que apenas falei com ela 3 ou 4 vezes, não me senti à vontade, achei que nada do que lhe pudesse dizer iria diminuir a sua dor, não fui capaz...

E na 6ª feira encontrei-a por acaso. Tinham-me dito que estava a reagir bem, se mostrava forte e que até já estava a tentar engravidar novamente...Dei-lhe dois beijinhos, perguntou-me pelos meninos, disse-lhe que estavam uns reguilas, e depois impelida pela "obrigação" de lhe dizer qualquer coisa disse-lhe algo como: "E vocês?...Um dia de cada veznão é? Vão ultrapassando... Agora é preciso pensar no futuro e tenho a certeza que tudo vai correr bem!...". Disse-me que sim, que tentavam que fosse esse o espírito, mas que existiam dias piores, que custava muito...Disse-lhe que compreendia e que sabia que jamais iriam esquecer a Lara, mas que o futuro lhe traria de certo outro bebé e que isso iria com certeza minimizar a dor deles e dar-lhes uma nova alegria. Concordou com um olhar triste, tão triste que me apeteceu abraçá-la e...não fui capaz...

Despedimo-nos e apeteceu-me gritar de raiva de mim própria. Acabei por de certa forma lhe dizer tudo o que não devia. De algum modo minimizar a sua dor...Acho que foi isto que não gostei que me dissessem quando abortei às 8 semanas. Custou-me tanto, sofri. E acredito que ela agora esteja a sofrer mais ainda, ela sentiu a filha, viu a sua barriga crescer, preparou um quarto com carinho, sabia que era uma menina, a sua Lara e depois...Vazio...E eu fui-lhe falar em "ultrapassar", "pensar no futuro"...

Não estava preparada...Nestas situações para mim é mais fácil escrever e só assim consigo "falar" com o coração....

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4 Comentários:

  • Às 7:08 da tarde , Blogger Ana disse...

    Eu sei como eh, quando a Isabella morreu algumas pessoas ate me deixaram de falar, quando me viam disfarcavam e saiam rapidamente do meu lado, nao eram mas pessoas so que nao sabiam o que dizer, o que fazer....outras querem ajudar e so magoam.
    Quando nos falam do futuro, planos para ter outro bebe e coisas assim eh com se nos tivessem a cortar por dentro, quem perde um filho nao pensa no futuro, nao faz planos para ter outro filho, quer aquele que perdeu e so aquele, um filho nao substitui outro filho no coracao de uma mae.
    Tambem ja passaste por isso sabes como eh....infelizmente ja me vi tambem no papel de reconfortar uma mulher que perdeu o seu bebe mas nao fui capaz de falar, so chorei, por mim, por ela, pela tremenda injustica que eh feita cada vez que um bebe morre.

     
  • Às 11:23 da tarde , Blogger Raquel disse...

    Acho que nunca se sabe o que dizer nestas situações...
    Deixa lá...

    Ela sentiu de alguma forma que estavas solidária com a sua dor.

    Acho que no fundo não há palavras nenhumas q se adequem por muito que nos esforcemos...

     
  • Às 11:28 da tarde , Blogger Liliana ♥ disse...

    ;( triste

    Nunca sabemos o q dizer... se é q há alguma coisa a dizer q ainda ñ tenha sido dito... escolhemos as palavras mas ñ acertamos...

    não te preocupes...

    beijinho

     
  • Às 12:45 da tarde , Blogger kriz disse...

    são ocasiões em que as palavras são insufucientes e a maior parte de nós nunca diz aquilo que queria. a tua reacção foi normasl e não fizes-te nada de mal. certamente ficamos sempre com vontade de ter dito/feito diferente. do tamanho de uma formiga... sem duvida... é o que sentimos frente a estas situações...

    bjs***

     

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